Transnatura Videolab 2007


IMAGEM CORPO (Reflexão#01)

Sendo uma das mais curiosas temáticas artísticas das últimas décadas, o corpo é para os artistas material de experimentação, tal como há séculos atrás o foi a pedra, a madeira ou o barro. Ao incidir especificamente sobre o corpo humano, a arte transforma-o em objecto manipulável e passível de enunciar símbolos, significados, imaginários próprios.
A actualidade inunda os ecrãs de televisão e de cinema pelo mundo fora com imagens do corpo, e é provável que esta abundância revele que o corpo é algo que finalmente está na ordem do dia. Séculos passados na imposição da dualidade matéria/espírito, corpo/alma, uma das pedras basilares sobre as quais assenta toda a cultura ocidental, são os artistas quem tenta libertar a humanidade da ideia do corpo como estalagem de todos os males. Com efeito, desde Platão, e atingindo o auge com Descartes, a imagem do corpo como uma perigosa máquina repleta de contrariedades viria a ficar impressa no imaginário colectivo do homem ocidental.
A sociedade globalizada em que todos nós nos movemos atiça-nos com a ideia do corpo como uma ferramenta que poderemos utilizar de forma a despertar nos outros a sua atenção. Nesse sentido, falar de corpo é falar da necessidade de projectar uma imagem – todos os corpos pretendem transmitir de si uma imagem que lhes pertença, que seja única. De estalagem de todos os males, o corpo passa, assim, a ser não só aquilo que permite ao indivíduo definir a sua identidade própria como também o veículo de eleição para aceder ao prazer.
O corpo é utilizado como suporte artístico desde há milhares de anos, e memórias desse tempo podem hoje ser encontradas nos diversos povos primitivos ainda existentes. Para estes últimos, o corpo é o prolongamento da natureza, a tela onde imprimem as suas crenças e rituais, e é provável que a importância que a arte das últimas décadas tem atribuído ao corpo seja uma forma de reconquistar o valor ritual do corpo humano. Por outro lado, recorrendo os ‘artistas do corpo’ actuais às infinitas possibilidades das novas tecnologias, tecnologias essas que emanam de um conhecimento técnico que labora num campo completamente distinto daquele que é próprio da arte (que sempre esteve associada à subjectividade), é provável que a arte possa ser vista como a mediadora que vai tentar sanar os dois campos tradicionalmente antagónicos: corpo/alma.

É para tentar reflectir sobre este, e outros enunciados, que o Projecto Videolab apresentará o evento “Imagem Corpo”, integrado no Transnatura 2007.
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* Still: (...) by Laetitia Bourget

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